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quarta-feira, 1 de maio de 2013

A RESISTÊNCIA BAVARA


É curioso como há clubes como o Ajax que sempre possuíram uma história de grandeza associada ao seu multiculturalismo e à sua resistência contra os regimes totalitários. E outros, como o Bayern Munique, que foram acusados por várias vezes serem, clubes acomodados e clubes sem personalidade. Ironicamente, durante a II Guerra Mundial o Ajax, um clube da comunidade judaica, colaborou com o regime nazista na denúncia de membros influentes da comunidade judaica local que acabaram em campos de concentração. Por outro lado, o Bayern, foi o único clube alemão que desafiou abertamente os "poderes" de Hitler. E pagou um  preço alto por essa resistência.

Entre os anos 30 e os anos 60, a grande equipe do futebol alemão perdeu tudo o que tinha ganho. Passou muitos anos nas divisões inferiores, sofreu muito na questã social na Baviera e viu muitos dos seus dirigentes exilados. Foi o preço por opor-se ao regime nazista e à sua politica de anti-semitismo.
O clube tinha começado a afirmar-se na elite do futebol germânico desde o final da década de 20 e em 1932 sagrou-se campeão nacional pela primeira vez na sua história. Não voltaria a vencer um titulo até ao final dos anos 60.
Em 1933 o regime de Adolf Hitler controla definitivamente a Alemanha.
Uma das suas primeiras medidas iniciais passava pelo controle total de todas as instituições esportivas e sociais. Originalmente o plano de Hitler era acabar com todos os clubes de futebol e criar tudo do zero totalmente fieis ao partido. Houveram várias fusões entre clubes em cidades por todo o país e quanto às instituições mais influentes, o regime exigiu a demissão dos seus dirigentes e a substituição por pessoas ligadas ao nazismo. Pior para os  clubes que empregavam  membros da comunidade judaica. Bernhardt Rust, ministro da educação, promulgou em Junho de 1933 uma lei que expulsava qualquer membro da comunidade judaica de qualquer instituição estatal, desportiva ou educativa na Alemanha. 
Muitos dos clubes alemães já se tinham antecipado à medida. O Bayern recusou-se,  a obedecer a essa lei e até ao último dia o seu presidente, o judeu Kurt Landauer, homem por trás da gestão que levou ao primeiro titulo dos bávaros  manteve-se no posto com o apoio absoluto do restante dos dirigentes, dos jogadores e torcedores, muitos dos quais membros do partido. Anos depois Landauer foi preso pela Gestapo, policia do regime nazista, por resistência ao regime e acabou num campo de concentração que funcionaria como teste ao que mais tarde se viria fazendo parte do Holocausto, Dauchau. Em 1939 conseguiu escapar e refugiou-se na Suíça onde manteve o contato com os seus antigos companheiros em Munique.
A atitude do clube irritou profundamente os dirigentes nazistas.
O regime apoiou declaradamente o rival local, Munique 1860, e liberou enormes quantidades de verbas, campos de treino de primeiro nível e facilidades na negociação de jogadores que tinham de cumprir serviço militar. Ao contrário, para os negócios do Bayern tudo era dificultado e problemas para resolver e a pouco e pouco o clube tornava-se numa instituição marginal. Foi forçado a despedir alguns dos seus melhores jogadores (judeus) e quando o regime aplicou uma legislação que obrigava os clubes a serem absolutamente amadores, instituições que tinham rumado ao conceito semi-profissional, como era o caso do Bayern de Munique, tiveram de reformular o elenco de forma drástica.
Mesmo assim, o clube manteve-se fiel ao seu presidente, anunciando nas suas publicações que Landauer ainda era dirigente com plenos direito no clube e que todas as regras impostas pelo partido eram apenas aceitas, não compartilhadas ideologicamente pelo clube. Em 1940, o clube foi até à Suíça disputar um amistoso. Landauer estava nas tribunas. Os jogadores aproximaram-se e aplaudiram-no durante muitos minutos. No intervalo a Gestapo entrou no vestiário e ameaçou a todos os jogadores com uma ida sem volta a um campo de concentração se a atitude se voltasse a repetir. Na conservadora Baviera, onde muitos dos adeptos ao regime ficaram depois da guerra terminar como auxiliares da administração norte-americana, essa postura nunca foi esquecida e a popularidade do Munique 1860  manteve-se em alta até aos anos 60.

Fiel ao seu principio, o Bayern mandou publicar nos jornais locais uma nota de saudações aos exércitos Aliados no dia em que, finalmente, foi assinado a rendição da Alemanha. Dois anos depois Kurt Landauer voltou do exílio na Suíça e chegou a Munique para ser reeleito, por aclamação, presidente do Bayern. Cargo em que manteve até 1951. Os problemas sociais mantiveram o clube longe da elite durante os dez anos seguintes.

Curiosamente foi um jovem que estava na base do rival  de cidade. Franz Beckenbauer mudou a história e tornou-se igualmente numa das figuras que mais impulsionaram os ideais filantrópicos do clube. Desde os milhões oferecidos às vitimas do tsunami no sudeste asiático em 2004, apoios a escolas no Sri Lanka e, sobretudo, um apoio financeiro direto a muitos clubes alemães com problemas financeiros, do politizado St. Pauli ao rival direto Borusia Dortmund sem esquecer, curiosidades da vida, o seu vizinho, o Munique 1860 .

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