O início do século XIX foi o período do ápice da primeira Revolução Industrial na Inglaterra. A classe operária já estava praticamente consolidada e já começava a ter a sua consciência de classe. A classe operária inglesa também praticava esses jogos, principalmente nos horários livres que foram conquistando no processo de conscientização de classe e do movimento operário sindical. Porém, como sabemos, tais jogos eram muito violentos e não tinham regras algumas às vezes. Tal violência do esporte fazia com que a produção do operariado caísse, devido a lesões e cansaços, prejudicando assim o lucro dos grandes patrões da burguesia industrial. Era preciso, assim como foi feito nas escolas, regulamentar esses jogos, para torná-los menos violentos e trazê-los para dentro da esfera do controle do Estado. Tal regulamentação do Futebol foi expandida, com a ajuda do Estado, para toda a sociedade inglesa. A classe burguesa industrial triunfou, e suas regulamentações esportivas se massificaram, tornado o futebol em um esporte de massa. Além disso, “os burgueses descobriram o futebol como meio de despolitização dos trabalhadores na década de 1860.
O objetivo era bem claro. Eles precisavam manter os operários à margem da atividade política dentro de suas organizações de classe”. Podemos perceber que a regulamentação das regras do Futebol, e outros jogos, veio em um momento histórico onde o operariado começa a reivindicar os seus direitos e começavam a se tornar uma classe política. Nada melhor para a burguesia industrial do que controlar, a partir da criação de regras, um jogo em que a maioria proletária praticava.
Enfim, em 1863 foi fundada na Inglaterra a Football Association, fazendo com que se criassem regras para a prática do jogo entre as equipes. Formavam-se assim tabelas, datas dos jogos, ou seja, controlava-se a prática. Os times eram formados pelas fábricas espalhadas pelas diversas cidades do país. Os jogadores destes times eram os próprios funcionários destas fábricas, que disputavam jogos, geralmente nos sábados a tarde (tradição existente até hoje no Campeonato Inglês de Futebol) no dia em que tinham folgas. Muitas pessoas iam assistir a esses jogos.
Geralmente eram também operários das fábricas as quais os times representavam, e também a família e a comunidade desses jogadores. É nesse período que começam a surgir as grandes rivalidades entre os diferentes times das cidades da Grã Bretanha. É nesse momento que surgem as disputas entre o Manchester City e o Manchester United, o Celtic e o Rangers, e o Arsenal, o Chelsea e o Cristal Palace em Londres. Como podemos perceber, inicia-se neste momento a identificação por parte da população pelos clubes de futebol, seja por razões comunitárias, culturais e até mesmo religiosas.
Uma questão muito interessante a ser discutida é de que como o futebol conseguiu tanto sucesso entre as massas, e até mesmo entre todas as classes? Qual o motivo de toda essa paixão pelo esporte surgida na Segunda metade do século XIX? Talvez o historiador Nicolau Sevcenko possa nos responder essa pergunta.
"Assim, num curtíssimo espaço de tempo, o futebol conquistou por completo toda a população trabalhadora inglesa e, em breve, conquistaria a do mundo inteiro. Como entender esse frenesi, esse poder irresistível de sedução, essa difusão epidêmica inelutável? Como vimos, parte da explicação está nas cidades, parte no próprio futebol. A extraordinária expansão das cidades se deu, como vimos, a partir da Revolução Científico-Tecnológica, pela multiplicação acelerada da massa trabalhadora que para elas acorreu em sucessivas e gigantescas ondas migratórias. Nas metrópoles assim surgidas, ninguém tinha raízes ou tradições, todos vinham de diferentes partes do território nacional ou do mundo. Na sua busca de novos traços de identidade e de solidariedade coletiva, de novas bases emocionais de coesão que substituíssem as comunidades e os laços de parentesco que cada um deixou ao emigrar, essas pessoas se vêem atraídas, dragadas para a paixão futebolística que imana estranhos, os faz comungarem ideais, objetivos e sonhos, consolida gigantescas famílias vestindo as mesmas cores."
Como vemos, o futebol se tornou uma forma de identificação para as massas trabalhadoras das grandes cidades inglesas. Os times se tornaram muito mais do que times, se tornaram um objeto em que as pessoas encontravam o seu igual, encontravam seus objetivos e sonhos, tão arraigados pelo trabalho árduo nas fábricas durante a semana. O futebol faz com que todos saiam ganhando. Tanto as grandes massas, que encontram nele certa identidade, quanto pela burguesia, que o utiliza para regulamentar a sociedade e a massa proletária.
O século XIX pode ser considerado o século do imperialismo inglês pelo mundo. Assim como o comércio inglês se expandiu pelo mundo, os seus aspectos culturais também. E com o futebol não foi diferente.
Parabéns, uma rica fonte fazendo uma associação da origem do futebol com o período da Revolução Industrial, gostei muito, como fã de futebol e historiador, nada melhor que seu blog e essa postagem.
ResponderExcluirótimo texto. Parabéns pela sua construção. Um bom caminho para estudo e compreensão sobre o termo.
ResponderExcluirParabéns, ótimo texto. Boa fonte....
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