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sexta-feira, 31 de maio de 2013

O JOGO DA MORTE


Tudo aconteceu meses depois de setembro de 1941, quando Kiev, capital da Ucrânia, foi ocupada pelo exército Nazista. Andando pela rua, Josef Kordik, um padeiro alemão radicado na cidade, não pôde deixar de reparar nos soldados ucranianos doentes e desnutridos, que haviam regressado do campo de batalha. Contudo, um deles, grandalhão, surpreendeu-o, era Nikolai Trusevich, astro de seu time do coração: o Dinamo.
Kordik empregou Trusevich em seu comércio, e os dois logo combinaram de resgatar os demais companheiros do goleiro, que ainda estivessem vivos. O arqueiro conseguiu, efetivamente, encontrar alguns de seus antigos camaradas, e ainda levou para a padaria alguns rivais do campeonato russo, além de três atletas do conhecido time do Lokomotiv.

Ousados eles decidiram voltar a fazer a única coisa que sabiam, jogar futebol. E como não podiam levantar o antigo Dínamo, criaram uma nova equipe, o FC Start, que, a partir de junho de 1942, passou a desafiar as equipes de futebol formadas por militares dastropas que haviam invadido a União Soviética. A carreira de vitórias do desconhecido Start passou a incomodar os oficiais superiores do Terceiro Reich, que organizaram uma partida dos ucranianos e de seus colegas contra a poderosa equipe da Flakelf, pertencente à Luftwaffe. O resultado, vitória do Start por 5 a 1, o que representou pouco menos do que uma catástrofe para os invasores.

Só depois dessa derrota é que os alemães descobriram a manobra do padeiro Kordik. Berlim ordenou a eliminação de todo o atrevido time da Ucrânia, Kordik inclusive, mas os Nazistas que controlavam Kiev decidiram não varrer aquela gente desafiadora da face da Terra antes de derrotá-la no campo de jogo.

A revanche foi então marcada para 9 de agosto de 1942, no estádio Zenit. A torcida compareceu em massa. Apesar de o juiz, um oficial da SS, ter advertido os ucranianos no vestiário, antes da partida, que eles deveriam fazer a saudação Nazista, os atletas do Start, vestidos com camisa vermelha e calção branco, ao levantarem o braço, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer “Heil Hitler!” gritaram “Fizculthura!”, um brado soviético que proclamava a cultura física.

Os alemães, de camisa branca e calção negro, marcaram o primeiro gol, mas o Start virou o jogo ainda no primeiro tempo, e foi para o intervalo vencendo por 2 a 1. No vestiário eles foram advertidos por oficiais da SS de armas em punho: deviam perder a partida, ou ninguém sairia do estádio vivo (uma mentira, já que a morte deles havia sido já ordenado pelo partido nazista).



Amedrontados, os jogadores pensaram em não voltar para o segundo tempo, mas o entusiasmo da torcida os levaram de volta ao gramado. A poucos minutos do final da partida, quando o placar já era de 5 a 3 para o Start, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão. Ele, então, aplicou-lhe um drible desconcertante, deixando o coitado estatelado no chão, e de frente para o gol deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. O estádio veio abaixo.

Impressionados com a reação do público, os oficiais alemães permitiram que o time do Start deixasse o estádio, e até que jogasse novamente, para golear seu último adversário por 8 a 0. Mas essa foi mesmo a vitória derradeira.

Horas mais tarde um pelotão de soldados cercou e invadiu a padaria de Kordik. O comerciante foi o primeiro a morrer torturado na frente dos jogadores. Em um campo de concentração de Siretz foram mortos Klimenko, o goleiro Trusevich (que pediu para usar a camisa do Start) e Kuzmenko. Escaparam a esse fim os atletas Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria no momento em que os soldados alemães apareceram. Apesar de procurados, eles sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev, em novembro de 1943.

Na sede do Dínamo de Kiev, um monumento saúda e recorda os heróis do FC Start – considerados heróis da Pátria ucraniana.


Confira abaixo um documentário feito pela ESPN americana sobre a história do FC Start:

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