Kordik empregou Trusevich em seu comércio, e os dois logo combinaram de resgatar os demais companheiros do goleiro, que ainda estivessem vivos. O arqueiro conseguiu, efetivamente, encontrar alguns de seus antigos camaradas, e ainda levou para a padaria alguns rivais do campeonato russo, além de três atletas do conhecido time do Lokomotiv.
Ousados eles decidiram voltar a fazer a única coisa que sabiam, jogar futebol. E como não podiam levantar o antigo Dínamo, criaram uma nova equipe, o FC Start, que, a partir de junho de 1942, passou a desafiar as equipes de futebol formadas por militares dastropas que haviam invadido a União Soviética. A carreira de vitórias do desconhecido Start passou a incomodar os oficiais superiores do Terceiro Reich, que organizaram uma partida dos ucranianos e de seus colegas contra a poderosa equipe da Flakelf, pertencente à Luftwaffe. O resultado, vitória do Start por 5 a 1, o que representou pouco menos do que uma catástrofe para os invasores.
Só depois dessa derrota é que os alemães descobriram a manobra do padeiro Kordik. Berlim ordenou a eliminação de todo o atrevido time da Ucrânia, Kordik inclusive, mas os Nazistas que controlavam Kiev decidiram não varrer aquela gente desafiadora da face da Terra antes de derrotá-la no campo de jogo.
A revanche foi então marcada para 9 de agosto de 1942, no estádio Zenit. A torcida compareceu em massa. Apesar de o juiz, um oficial da SS, ter advertido os ucranianos no vestiário, antes da partida, que eles deveriam fazer a saudação Nazista, os atletas do Start, vestidos com camisa vermelha e calção branco, ao levantarem o braço, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer “Heil Hitler!” gritaram “Fizculthura!”, um brado soviético que proclamava a cultura física.
Os alemães, de camisa branca e calção negro, marcaram o primeiro gol, mas o Start virou o jogo ainda no primeiro tempo, e foi para o intervalo vencendo por 2 a 1. No vestiário eles foram advertidos por oficiais da SS de armas em punho: deviam perder a partida, ou ninguém sairia do estádio vivo (uma mentira, já que a morte deles havia sido já ordenado pelo partido nazista).
Amedrontados, os jogadores pensaram em não voltar para o segundo tempo, mas o entusiasmo da torcida os levaram de volta ao gramado. A poucos minutos do final da partida, quando o placar já era de 5 a 3 para o Start, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão. Ele, então, aplicou-lhe um drible desconcertante, deixando o coitado estatelado no chão, e de frente para o gol deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. O estádio veio abaixo.
Impressionados com a reação do público, os oficiais alemães permitiram que o time do Start deixasse o estádio, e até que jogasse novamente, para golear seu último adversário por 8 a 0. Mas essa foi mesmo a vitória derradeira.
Horas mais tarde um pelotão de soldados cercou e invadiu a padaria de Kordik. O comerciante foi o primeiro a morrer torturado na frente dos jogadores. Em um campo de concentração de Siretz foram mortos Klimenko, o goleiro Trusevich (que pediu para usar a camisa do Start) e Kuzmenko. Escaparam a esse fim os atletas Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria no momento em que os soldados alemães apareceram. Apesar de procurados, eles sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev, em novembro de 1943.
Na sede do Dínamo de Kiev, um monumento saúda e recorda os heróis do FC Start – considerados heróis da Pátria ucraniana.
Confira abaixo um documentário feito pela ESPN americana sobre a história do FC Start:
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